As barreiras para a efetiva Educação Inclusiva
Conversamos com a Professora Michele Morais sobre a sua experiência com a Educação Inclusiva, principais problemas e angústias gerados pela falta de formação para atender a este público.

HI - Não é fácil lecionar para turmas que estão cada vez mais heterogêneas. Explique como é o contexto escolar em que você atua e o cotidiano com os estudantes que necessitam de estratégias pedagógicas adaptadas.
Michele - Atualmente leciono na rede privada de Florianópolis, apenas em uma escola, na qual tenho dez turmas entre ensino fundamental 2 e ensino médio. Considerada uma escola de porte médio e situada nas proximidades da Universidade, atende a um público bastante diverso, mas essencialmente ao grupo social pertencente a classe média/média-alta. Temos matriculados diversos alunos inseridos no contexto de inclusão, no ano de 2020 eu tinha 9 turmas e 14 alunos que demandavam algum tipo de adaptação nas avaliações e atividades escolares. As especificidades de cada um variavam entre espectro altista, síndrome de Down, TDHA, DPAC, entre outras e em diferentes níveis.
É difícil avaliar o quanto o atendimento e a atenção que, eu particularmente dava a cada um, era o suficiente. Em alguns momentos a impressão é de que não faz a menor diferença, em outros momentos entendia que aquele mínimo para aquele aluno era o suficiente ou até ultrapassava as expectativas. Acredito que parte desse sentimento se deve ao precário (praticamente nenhum) preparo que tivemos em nossa formação acadêmica e profissional. Mesmo nesta escola, na qual temos apoio pedagógico especializado e acompanhamento individualizado em alguns casos, ainda assim parece insuficiente. Nos falta material específico para a disciplina, nos falta formação geral e específica para trabalharmos com maior qualidade e eficiência, inclusive no preparo de materiais. Mas também muitas vezes falta um trabalho de sensibilização focado em alguns professores, pois infelizmente, ainda encontramos colegas de profissão intolerantes e insensíveis a presença destes indivíduos nas salas de aula.
Reconheço também que muitas vezes a demanda da turma somada a demanda das especificidades da inclusão se mostram incompatíveis para o tipo de aula que idealizamos. Na prática as dificuldades são inúmeras e acabamos fazendo o que é possível para aquele aluno naquele determinado momento.
HI - Apesar de todas essas dificuldades, percebe-se na sua fala que você acredita na inclusão. De que forma você a história pode contribuir com a formação dos estudantes com deficiência intelectual?
Michele - Pensando de maneira mais geral e ampla, acredito que o ensino de história para estes indivíduos possa contribuir desde noções básicas de sociedade, até o desenvolvimento de um processo de identificação sócio-cultural, de pertencimento ao mundo em que vive. Pode promover a compreensão da pluralidade de indivíduos e de transformações ocorridas no mundo ao longo do tempo.